quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Tec. de Prod. de Soja - Instalação da Lavoura

Umidade e temperatura do solo

A semente de soja, para a germinação e a emergência da plântula, requer absorção de água de, pelo menos, 50% do seu peso seco. Para que isso ocorra, devem haver adequadas umidade e aeração do solo e a semeadura deve propiciar o melhor contato possível entre solo e semente. Semeadura em solo com insuficiência hídrica, ou "no pó", prejudica o processo de germinação, podendo torná-lo mais lento, expondo as sementes às pragas e aos microorganismos do solo, reduzindo a chance de obtenção da população de plantas desejada. Em caso de semeadura nessas condições, o tratamento de sementes com fungicidas pode prolongar a capacidade de germinação das mesmas, até que ocorra condição favorável de umidade no solo.
A temperatura média do solo, adequada para semeadura da soja, vai de 20oC a 30oC, sendo 25oC a ideal para uma emergência rápida e uniforme. Semeadura em solo com temperatura média inferior a 18oC pode resultar em drástica redução nos índices de germinação e de emergência, além de tornar mais lento esse processo. Isso pode ocorrer em semeaduras anteriores à época indicada em cada região. Temperaturas acima de 40oC, também, podem ser prejudiciais.

Cuidados na semeadura

Mecanismos da semeadora - A qualidade da semeadura é função, entre outros fatores, do tipo de máquina semeadora, especialmente o tipo de dosador de semente, do controlador de profundidade e do compactador de sulco.
Tipo de dosador de semente - Entre os tipos existentes, destacam-se os de disco horizontal e os pneumáticos. Os pneumáticos apresentam maior precisão, ausência de danos à semente e são mais caros. No caso do disco horizontal, de uso mais comum, indica-se os com linhas duplas de furos (alvéolos), por garantir melhor distribuição das sementes ao longo do sulco. Para maior precisão, primar pela utilização de discos com furos adequados ao tamanho das sementes.

Limitador de profundidade - O sistema com roda flutuante acompanha melhor o relevo do solo, mantendo sempre a mesma profundidade de semeadura.

Compactador de sulco - O tipo em "V" aperta o solo contra a semente, eliminando as bolsas de ar sem compactar a superfície do solo sobre a linha de corte do sulco, como ocorre com o tipo de roda única traseira.
Velocidade de operação da semeadora - A velocidade de deslocamento da semeadora influi na uniformidade de distribuição e nos danos provocados às sementes, especialmente nos dosadores mecânicos (não pneumáticos). A velocidade ideal de deslocamento está entre 4 km/h e 6 km/h. Nesse intervalo, a variação de velocidade depende, principalmente, da uniformidade da superfície do terreno.

Profundidade - Efetuar a semeadura a uma profundidade de 3 a 5 cm. Semeaduras em profundidades maiores dificultam a emergência, principalmente em solos arenosos, sujeitos a assoreamento, ou onde ocorre compactação superficial do solo.

Posição semente/adubo - O adubo deve ser distribuído ao lado e abaixo da semente, pois o contato direto prejudica a absorção da água pela semente, podendo até matar a plântula em crescimento, principalmente em caso de dose alta de cloreto de potássio no sulco (acima de 80 kg de KCl/ha).

Compatibilidade dos produtos químicos - Produtos químicos como fungicidas e herbicidas, nas doses recomendadas, normalmente, não afetam a germinação da semente de soja. Porém, em doses excessivas, prejudicam tanto a germinação da semente de soja. Porém, em doses excessivas, prejudicam tanto a germinação quanto o desenvolvimento inicial da plântula.

Época de semeadura

A época de semeadura é um dos fatores que mais influenciam o rendimento da soja. Como essa é uma espécie termo e fotossensível, está sujeita a alterações fisiológicas e morfológicas, quando as suas exigências, nesse sentido, não são satisfeitas. A época de semeadura determina a exposição da soja à variação dos fatores climáticos limitantes. Assim, semeaduras em épocas inadeqüadas podem afetar o porte, o ciclo e o rendimento das plantas e aumentar as perdas na colheita. A altura das plantas está, também, relacionada com a população de plantas, com a cultivar utilizada e com a fertilidade do solo.

Região Centro-Oeste - De modo geral, o período preferencial para a semeadura de soja vai de 20 de outubro e 10 de dezembro. Entretanto, é no mês de novembro que se obtém as maiores produtividades e altura de planta adequada. Em áreas bem fertilizadas e com alta tecnologia, pode-se conseguir boa produção em semeaduras realizadas até 20 de dezembro. Nas áreas mais ao norte, as melhores produções são obtidas em semeaduras de novembro e dezembro. Para semeaduras de dezembro, recomenda-se evitar o uso de cultivares de muito tardias o precoces, dando preferência a cultivares de ciclo médio ou semitardio de porte alto. Na maioria dos casos, semeaduras de final de dezembro e de janeiro podem ocasionar reduções de rendimento de até 50%, em relação a novembro. De janeiro em diante as perdas podem ser ainda maiores. Para viabilizar a sucessão de culturas, recomenda-se a utilização de cultivares precoces. Estas informações são válidas, também, para Rondônia e sul de Tocantins.

Regiões Norte e Nordeste - As áreas de cultivo de soja estão distribuídas em uma vasta região, em áreas que se diferenciam muito quanto ao período de ocorrência de chuvas. Assim, a época mais indicada para semeadura da soja, varia de estado para estado e dentro de um mesmo estado, conforme descrito a seguir.
- Maranhão - no sul, novembro a 15 de dezembro; no norte, janeiro.
- Pará - no sul (Redenção), novembro a 15 de dezembro; no nordeste (Paragominas), 15 de dezembro e janeiro; no noroeste (Santarém), 10 de março a abril.
- Piauí - no sudoeste (Uruçuí - Bom Jesus), novembro a 15 de dezembro.
- Tocantins - no norte (Pedro Afonso), novembro a 15 de dezembro.
- Roraima - na região central (Boa Vista), maio.

Diversificação de cultivares

As flutuações anuais do rendimento, para uma mesma época, são, principalmente, determinadas por variações climáticas anuais. Uma prática eficiente para evitar tais flutuações é o emprego de duas ou mais cultivares, de diferentes ciclos, numa mesma propriedade, procedimento especialmente indicado para médias e grandes áreas. Desse modo, obtém-se uma ampliação dos períodos críticos da cultura (floração, formação de grãos e maturação), havendo menor prejuízo se ocorrerem, entre outros fatores, deficiência ou excesso hídrico, os quais atingirão apenas uma parte da lavoura.

População e densidade de semeadura

Em função de avanços nos sistemas de semeadura (maior precisão das semeadoras), de cultivares mais adaptadas, de melhoria da capacidade produtiva dos solos, de adoção de práticas conservacionistas, de cobertura vegetal do solo e da semeadura direta, entre outros fatores, a população padrão de plantas de soja foi reduzida gradativamente, nos últimos anos, de 400 mil para, aproximadamente, 320 mil plantas por hectare, porque as condições acima permitem melhor crescimento e maior rendimento por planta. Esse número de plantas pode variar, ainda, em função da cultivar e/ou do regime de chuvas da região (volume e distribuição) no período de implantação e de crescimento das plantas e da data de semeadura.
Em áreas mais úmidas e/ou em solos mais férteis (fertilidade natural ou construída), onde, com freqüência, ocorre acamamento das plantas, a população pode ser reduzida de 20%-25% (ficando em torno de 240-260 mil plantas), quando em semeadura de novembro, para evitar acamamento e possibilitar maior rendimento.
Em semeaduras de outubro e de dezembro, é recomendável, na maioria das situações, especialmente em regiões/áreas onde a soja não apresenta porte alto, ou para cultivares que se comportam assim, mesmo na melhor época de semeadura, não reduzir a população para menos de 300 mil plantas, para evitar o desenvolvimento de lavouras com plantas de porte muito baixo. Em condições extremas, é aconselhável até aumentar para 350-400 mil plantas/ha.
De modo geral, cultivares de porte alto e de ciclo longo requerem populações menores. O inverso também é verdadeiro.
Indica-se espaçamento entre fileiras de 40 a 50 cm. Espaçamentos mais estreitos que 40 cm resultam em fechamento mais rápido da cultura, contribuindo para o controle das plantas daninhas, mas não permitem a realização de operações de cultivo entre fileiras.

Na Tabela 8.1 é apresentada a correspondência entre população de plantas por ha, espaçamento entre fileiras e número de plantas por metro.

Cálculo da quantidade de sementes e regulagem da semeadora

Para calcular o número de sementes a serem distribuídas, é necessário que se conheça o poder germinativo do lote de sementes. Essa informação é fornecida pela empresa onde as sementes são adquiridas, porém esse valor (% germinação) pode ser superior ao valor de emergência das sementes no campo. Por isso, recomenda-se fazer um teste de emergência em campo. A partir de uma amostra representativa, separam-se quatro subamostras de 100 sementes cada - que deverão ser semeadas a uma profundidade de 3 a 5 cm, em solo preparado, em quatro fileiras de 4 m cada. A umidade do solo deve ser mantida em nível adequado para a emergência, durante a execução da avaliação. Faz se contagem em cada uma das quatro fileiras, quando as plantas estiverem com o primeiro par de folhas completamente aberto (10 dias após a semeadura), considerando apenas as vigorosas. O percentual de emergência em campo será a média aritmética do número de plantas emergidas nas quatro repetições de 100 sementes.
O número de plantas/metro a ser obtido na lavoura é estimado levando em conta a população de plantas desejada/ha e o espaçamento adotado, usando a seguinte fórmula:


De posse desses valores, calcular o número de sementes por metro de sulco:


Para estimar a quantidade de semente que será gasta por ha, pode-se usar a seguinte fórmula:


onde: Q = Quantidade de sementes, em kg/ha;
P = Peso de 100 sementes, em gramas;
D = Nº de plantas que se deseja/m;
E = Espaçamento utilizado em cm; e
G = % de emergência em campo.

A constante 1,1, na fórmula acima, refere-se a um acréscimo de 10% no número de sementes, como fator de segurança. Aplicando essa fórmula numa situação de lote de semente com 80% de germinação e que a população esperada de 14 plantas/metro, a semeadora deverá ser regulada para distribuir em torno de 19 sementes/metro.
A semeadora a ser utilizada deverá ser previamente regulada para distribuir o número desejado de sementes. Para maior precisão na regulagem da semeadora, utilizar, caso disponível, sementes previamente classificadas por tamanho, bem como discos específicos, conforme recomendados pela empresa produtora da semente ou pelo fabricante da semeadora.
O sucesso da lavoura inicia-se pela semeadura bem feita. O bom resultado da semeadura, por sua vez, não depende apenas da semente mas, também, da maneira como foi executada e dos fatores climáticos ocorridos após a operação.