segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Cultivo do Feijoeiro Comum - Mercado e comercialização

Mercado e comercialização

A oferta de feijão ocorre na primeira safra principalmente nas regiões Sul e Sudeste e na Região de Irecê, na Bahia, cuja colheita está concentrada nos meses de dezembro a março. A colheita da segunda safra acontece entre os meses de abril e julho e a terceira safra, em que predomina o cultivo de feijão irrigado, está concentrada nos Estados de Minas Gerais, São Paulo, Goiás/Distrito Federal e oeste da Bahia, sendo ofertada, no mercado, entre julho e outubro. Embora estes períodos possam apresentar variações de ano para ano, pode-se identificar que há colheita praticamente o ano todo, e que existe sobreposição de épocas em algumas regiões.
Existem vários fluxos de abastecimento, pois as regiões produtoras variam durante o ano. Observa-se, inclusive, casos que numa determinada época do ano um estado é exportador e, em outra época, recebe feijão de outra região. Para facilitar o estudo foi considerado somente o mercado atacadista da cidade de São Paulo. Verificou-se que, nos meses de janeiro e fevereiro esse mercado é abastecido com o produto remanescente da colheita de dezembro, do próprio Estado, alguma produção colhida no mês e complementada com produto dos estados do sul e da produção de Minas Gerais, Goiás, Bahia e Mato Grosso do Sul. Em março, nos Estados de São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul já se encerra a colheita. Em abril, inicia-se a colheita da segunda safra, que vai até junho. Neste período, volta a entrar produto do próprio Estado, de Goiás, Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. O Estado de Rondônia desempenha um papel importante no abastecimento, neste período. No início de junho, o Rio Grande do Sul e Santa Catarina encerram suas colheitas e iniciam-se as do oeste da Bahia. Entre julho e agosto, às vezes, o mercado recebe produto importado. Em setembro, encerram-se as colheitas do Paraná e das lavouras irrigadas de São Paulo, Goiás, Bahia, Mato Grosso e de Minas Gerais. Novembro é considerado período de entressafra, a oferta é baixa e se restringe às safras precoces de São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul. Em dezembro, intensificam-se as colheitas nestes Estados.
Calculou-se um índice médio mensal de distribuição de colheita de feijão comum no Brasil, onde se observou que nos meses de dezembro, janeiro e junho ocorrem picos de colheita das safras das águas e seca, respectivamente. No período de fevereiro a maio, ocorrem colheitas com índices próximos à média de 8%. Resultados semelhantes são observados em julho e agosto. No período de setembro a novembro os índices são os mais baixos. No período de dezembro a agosto colhe-se cerca de 92% do total produzido no ano e no período de entressafra (setembro a novembro) colhe-se cerca de 8%.
No segmento do agronegócio há uma concorrência entre as cadeias produtivas e a competitividade de uma determinada cadeia é definida por vários fatores como eficiência agronômica, qualidade do produto e informação, entre outros. No caso de haver assimetria de informação sobre a quantidade e qualidade do produto que será ofertado pelas regiões produtoras, podem surgir oportunidades ou ações que beneficiem certos segmentos mais bem informados da cadeia produtiva. No caso do feijão esse fato torna-se mais relevante, devido à dinâmica de produção e comercialização ser complexa e praticamente desconhecida. Para Ferreira (2001) esse é um dos pontos de estrangulamento do agronegócio do feijão, exacerbado por freqüentes ocorrências de falhas nas previsões de mercado desse produto.
Ocorreram profundas transformações nos canais de comercialização e partir dos anos 90 com os supermercados apresentando uma nítida tendência à concentração. Entre 1995 e 1998, as cinco maiores organizações tiveram sua participação no mercado ampliada, de 27%, para 47,9%. Para Silva (1996), esta mudança contribuiu para reduzir o número de agentes intermediários no processo de distribuição dos produtos agrícolas. Outra conseqüência foi que, em busca de maior competitividade, os varejistas modernizaram seus pontos de vendas, induziram os fornecedores a criarem alternativas de apresentação do produto e, sobretudo, passaram a oferecer produtos com melhor qualidade. Em outras palavras, foram demandados mais e melhores serviços na intermediação. A conseqüência direta dessa mudança sobre a cadeia produtiva do feijão é a exigência por matéria-prima de melhor qualidade.
Os trabalhos comprovam, por unanimidade, que há queda do consumo per capita de feijão no Brasil, entretanto, sua magnitude não está bem dimensionada, não havendo consenso sobre as causas. O consumo per capita de feijão ao longo dos últimos 40 anos apresenta uma tendência decrescente da ordem de 1,3% ao ano, enquanto a população cresceu 2,2%. Porém, o decréscimo não ocorre de forma contínua, existindo oscilações entre os anos.
Observando as margens de comercialização absoluta e relativa, comparando o desempenho antes e após o Plano Real, ou seja, entre os períodos de 1990-94 e 1995-99. Nota-se que a margem absoluta entre o atacado e o produtor sofreu uma redução de R$15,30, entre o atacado e o varejo aumentou R$4,18 e entre o varejo e o produtor diminuiu R$11,66. Em termos relativos, a margem entre o varejo e o produtor aumentou 5,2%, entre o atacado e o produtor diminuiu 2,4%, entre o atacado e o varejo aumentou 12,3%. Os resultados mostram que consumidor pagou praticamente a mesma quantidade pelos serviços de intermediação entre os níveis atacado e produtor e mais entre o atacado e o varejo.
O teste de correlação contemporânea entre os preços mensais do varejo da cidade de São Paulo e o preço do varejo das demais metrópoles foi de 99,9%, ou seja, os preços no varejo se modificam simultaneamente, independente da região consumidora. No estudo de causalidade, considerando-se todos os estados da Federação, só foram encontradas relações significativas entre os sete principais estados produtores.
O feijão sofreu um grande impacto frente às mudanças sócio econômicas ocorridas nos últimos anos, caracterizadas pela estabilidade econômica, abertura de mercados, menor intervenção do governo na produção e comercialização e maior participação na venda a varejo de grandes supermercados. Os principais reflexos estão relacionados com a redução relativa na renda total dos produtos agrícolas, uma maior participação de feijão importado na abastecimento interno, maior exigência de qualidade do feijão ofertado, apesar de ter ocorrido redução dos preços médios nos três níveis de mercado, sendo que a maior defasagem foi no setor produtivo.
Neste contexto derivam muitas dúvidas e inseguranças para todos os segmentos envolvidos na cadeia produtiva do feijão. Os produtores são prejudicados porque têm dificuldades para obter informações e acabam tendo prejuízos na venda de suas produções. Desta forma, não arriscam fazer investimentos que poderiam tornar a cultura mais eficiente e segura.